Finalmente, esta semana Portugal deu um passo em frente, no que respeita à evolução da sua sociedade. Quando muitos nos apontam como um país ainda demasiado conservador, eis que uma lufada de ar fresco tomou conta de quem realmente gosta de animais. Falo, claro está, da lei que proíbe e sanciona criminalmente os maus tratos a animais de estimação. A meu ver, esta lei só peca por escassa, pois é um pouco redutor rotular "animais de estimação" e "outros animais". Mas enfim...
Aproveito assim esta conquista, para tocar aqui, pela primeira vez, num tema bastante controverso, que o é apenas pela pequenez do ser humano.
Longe vão os tempos, em que no Império Romano foram criadas arenas e coliseus, para entreter a plebe para que esta andasse mansinha e não ripostasse de algum modo, em relação aos trabalhos escravos, e aos pesados impostos. Era deste modo, assente na distracção, que o governo e o Imperador davam um bombom às multidões, para que estas se entusiasmassem em relação ao apogeu romano. Mais do que um acontecimento, um modo vaidoso de demonstrar o poder. Anos mais tarde, como alguém já afirmara "todo o Império perecerá", e assim acabaram os "espectáculos" sangrentos.
Passados alguns anos, eis que formam surgindo outras formas de entreter o povo. Estas mais "inteligentes", porque finalmente o Homem entendeu que se podia divertir na mesma, mas desta vez à conta de animais, exclusivamente. Um pouco por todo o globo foram ganhando força as lutas entre diversas espécies. Cães, crocodilos, leões, galos...o zé povinho entreteria-se na mesma, sem correr riscos (sem contar com os financeiros).
Depois, como aquela parte menos astuta do cérebro humano decidiu fazer uma coisa parecida com pensar, o Homem decidiu que não ser interveniente no espectáculo, e não ser alvo dos aplausos, não tinha piada. Então essa parte menos desenvolvida do cérebro humano resolveu, muito "inteligentemente", entrar no show com o animal malvado, mas desta vez de forma mais vantajosa e cobarde! Armado, a galope, vestido com uma espécie de ostentação real em skinny fit, ostentando uma pose imponente e superior, inflamando o coração do eufórico público, enquanto cravava, aquilo que no neandertal não passavam de lanças de caça, no dorso do maléfico animal preto, castigado por apenas respirar.
Podem não acreditar, mas hoje, em pleno século XXI, ainda existem essas práticas arcaicas!!! É verdade, juro!
Hoje, enquanto se descobrem curas para doenças graves, já existem pegadas na lua, toda a gente tem um curso superior, ninguém morre à fome, é a era da tecnologia, existe um iPhone ou Samsumg por cada 20 habitantes da Terra, existem carros que estacionam sozinhos, vive-se numa pior que nada democracia, defendem-se os direitos humanos...ainda existe uma aberração de seu nome tourada!!!!!!
Custa acreditar não é? Existirem pessoas que, em pleno século XXI, olham para a foto acima e vêem nela arte e cultura...
Não imaginam o que me custa pensar, que ainda hoje, vivo num mundo onde, só porque sim, se brinca à cobardia. E os argumentos são fenomenais: Tourada é arte. Tourada é cultura. Tourada é tradição. Os animais não sofrem. São mortos de qualquer forma, para os comermos...
Então tudo bem! Vamos passar isto na TV, os atrasadinhos papam isto na boa, e nós podemos continuar a pertencer à realeza, usar botas até ao joelho, criar gado na nossa quinta, ter jipes TT, usar risco ao lado, ter patilhas até aos cantos da boca, ter uma ladaínha espanhola, e continuamos a cravar ferros num animal, porque levamos com aplausos em cima, até que o animal decida não correr mais atrás do meu cavalo... e no fim, eu nem sujei esta roupa que mandei bordar com ouro...Sou um imponente cavaleiro tauromáquico que, invariavelmente, usa os testículos para a esquerda e tenho uma filho chamado Salvador, e uma filha Francisca!! Não é soberbo?
Segundo os argumentos acima, a tourada é para continuar porque é tradição e cultura...Também já fomos macacos, a escravatura era cultura, o nazismo foi legítimo, uma sardinha era para uma família, as carroças eram puxadas por animais, comíamos à mão, o mundo era dominado pelos americanos, em Portugal era a ditadura que governava...
A nossa sorte é que o calendário tende a andar para a frente, e existe uma coisa chamada futuro, que pressupõe civismo e evolução!!!!
Um bem haja!
PS: AH, quase me esquecia: "Puta que pariu as touradas"
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