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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Auschwitz caninos - "olhar adiante pelo espelho retrovisor"


Antes de mais gostaria de felicitar todos aqueles que se dignaram em votar. A quem não o fez, porque pura e simplesmente se está a borrifar para o futuro do país, deixo aqui uma pergunta no ar:
E se há cerca de 40 anos atrás não se tivesse alcançado o tão almejado sufrágio universal, e ainda hoje o povo não pudesse votar?
Com uma abstenção na ordem dos 40% apetece-me dizer que só temos o que merecemos.
Por outro lado, se somos nós, os contribuintes, quem financia as várias campanhas eleitorais, se os partidos políticos vivem indirectamente dos nossos dinheiros, e se cada partido lucra 3 euros por cada voto a seu favor, também me apetecia não ir votar. Mas, depois disso a minha consciência demoraria em ficar de bem comigo. 
Como podem perceber sou anti-partidário de gema. 
Depois deste desabafo, em semana de campanhas, onde todos os actores principais vieram a público dar a conhecer as suas ideias para os próximos 4 anos, nos respectivos poderes locais, e depois de ouvir e ver tanto teatro desnecessário, no meio de toda a fantochada, houve apenas um que me fez pensar.


 

Este senhor, de seu nome Henrique Raposo, teve a ousadia de escrever uma espécie de texto que, para além de cheirar mal, assentava num teor arcaico e apocalíptico.
A sua ideia, ou "utopia" como prefere denominar, prende-se com um futuro de cidades sem cães! Demonstrando toda a sua repulsa por este tipo de animais. 
Começa por referir que Coimbra deterá uma iniciativa legislativa que proibirá a entrada de cães nos parques da cidade. E acaba por fazer deste exemplo o seu slogan para as restantes cidades portuguesas, incluindo Lisboa, que diz parecer a parte de trás de um canil...
Ora, neste sentido este senhor esqueceu-se de incluir as aves que sobrevoam o espaço aéreo urbano, os gatos que vagueiam pelas traseiras dos restaurantes à procura de comida no lixo, dos ratos que transmitem doenças ás pessoas...dado que defende a ideia que as cidades são casas de banho para animais, ao que apelida os passeios de "campos minados".
Afirma ter vasculhado os programas eleitorais para as freguesias de Lisboa, e que eram poucos os candidatos que tocavam no ponto do reforço da limpeza das ruas.
Agora falo eu, não como defensor dos animais mas como cidadão do séc. XXI. 
Como é óbvio, em termos de civismo somos um país que tem que evoluir bastante, e isso cabe principalmente às novas gerações, pois é como um sentimento educacional transmissível, assim como o facto claro de que este senhor não teve formação cívica, ao longo da sua infância, já não digo de gostar de cães, mas simplesmente de os tolerar. 
Sendo eu dono de um cão em Lisboa, também não compreendo, e até condeno, quando vejo que existem donos que não se dignam em apanhar os dejectos do seu fiel companheiro. Mas será que a solução passará por uma lei que proíbe cães nas cidades, ou pelo contrário, passará muito mais pela mão pesada da lei para quem não zela pelo bem estar comum em locais públicos? Se é disto que falamos...
Com certeza, que o extremismo deste senhor seria amainado.
Depois, ao que me parece, não somos ainda um país, na sua maioria, minimamente preparado para a adopção de cães em locais urbanos. Porque convínhamos, que ter um cão vivendo num meio rural não acarretará a mesma responsabilidade cívica de quem o tem a viver num apartamento num meio urbano. E este falta de preparação não vem só da parte dos donos, muito mais é responsabilidade de quem nos governa localmente. Ou há por aí algum programa autárquico que contemple um parque exclusivo para cães, e eu não sei?
Não sou assim uma pessoa muito viajada, mas lembro-me de ir a Roma e ver vários desses parques. Não são raras as vezes que vejo e leio, que as cidade mais evoluídas e prosperas, desta parte mais ocidental do globo, serem "dog friend". Assim, convido o senhor Henrique Raposo a visitar os programas eleitorais de cidades como Estocolmo, Toronto, Roma, Chicago, Dublin, Praga e...Zurique!!! Esta última, exemplo referido por Raposo, como a força maior da lei a este respeito, mas parece ter-se esquecido da parte da lei que promove o espaço urbano canino nessa cidade... 
A meu ver, a solução não passaria pelo extremismo sugerido pelo senhor Henrique, muito mais passaria pelo "one step forward" das principais cidades portuguesas. 
Claro está, que a evolução do espaço urbano comum se direcciona no sentido exactamente contrário ao que este senhor sugere. Agora, não discordo da ideia de que essa evolução tenha que ser acompanhada pela espada da lei (nas suas palavras), dado que nem todos os donos estarão preparados civicamente para essa evolução.
Como informação adicional, nas cidades que referi acima, o cão, culturalmente e perante a lei, é tão importante como o ser humano que o passeia. Ou seja, a balança está muito equilibrada em termos de liberdade/responsabilidade. Logo, não imagino Lisboa nem Coimbra a par de uma qualquer cidade do Laos ou do Cambodja, onde os cães servem essencialmente de alimento...

Este Barão sabe que Portugal tem um longo caminho a percorrer, no que toca aos valores morais e culturais que regulam a gestão do espaço público, mas certamente que certas formas de pensar o futuro não se adequam com o verdadeiro significado da palavra!          

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