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terça-feira, 25 de março de 2014

Mercado de Fusão: "Café Bombeiro"


Lembranças de infância...Tempos de ciclo preparatório. 
Longe vão esses tempos, mas porventura são os meus melhores tempos de escola. E também aquele que me preenche mais a memória. Talvez por eu ser muito bem comportado e nunca fazer asneiras nenhumas...um chamado paz de alma, era eu!
Havia quem dissesse que naquele tempo tinha energia a mais, o que hoje se chama de puto hiper-activo. O que eu nunca revelei foi a minha fonte de energia dessa época. Tudo tem uma explicação e esta é bem simples, e esteve disponível a todos. Se não a aproveitaram também já não vão a tempo.
A minha "bomba de gasolina" tinha o nome de "Café Bombeiro", ou curriqueiramente aclamado pelo "Café do Sr. João". Estabelecimento sobejamente conhecido naquele tempo, naquelas bandas, por todos os miúdos e graúdos que rondavam a zona do Clico do Cartaxo. 
Situado num r/ch de um velho edifício de habitação, detinha dupla entrada e saída para a escola, que estava ali bem a uns 10 metros. 
Uma espécie de apêndice do conhecimento escolar. 
Muito sui generis era a sua oferta, que englobava nos mesmos serviços: restaurante; tasca; sala de jogos; taberna; snack-bar; e mais importante que qualquer outro serviço anterior...loja de gomas. Talvez a primeira e mais mediática de todo o Cartaxo. A freguesia dividia-se a meias com dois grupos bem distintos: putos reguilas como eu, e bêbedos como o mítico Zé Lucas. Sendo assim, era um espaço bastante ecléctico, e um roteiro obrigatório, tanto para amantes de guloseimas como de vinho e afins. 
De referir ainda, podendo ser interessante, que as mãos que serviam um copo de vinho eram rigorosamente as mesma que serviam gomas 5 segundos depois, sem precisar de qualquer tipo de utensílio, ou mesmo de passagem por água, o que conferia ás unhas do Sr. João, e à sua família, uma panóplia de cores de fazer inveja à higiene, ou mesmo às famosas unhas de gel. 
Ali tudo tinha o seu encanto. Conseguia ser literalmente um mercado de fusão, onde as gomas sabiam a vinho tinto e o vinho tinto era com certeza mais doce. Já para não falar das vezes que os petizes saiam a correr do famigerado estabelecimento, guardando secretamente as suas guloseimas, com medo dos gatos que vagueavam por cima das caixas de gomas. A táctica era simples: optar o quanto antes, pelas gomas que ainda não tinham sido lambidas pelos bichanos.
Naquele mercado de fusão, o ambiente era muito familiar, muito por culpa do à vontade com que os proprietários, marido e mulher, aproveitavam as horas de enchente para pôr a discussão em dia (o teor das discussões não sei, porquê tinha ainda 9 anos, e ainda não sabia todos os palavrões que existiam em bom português). Pronto, era no fundo um ambiente para homens e mulheres de barba rija.
Assim que a campainha soava para o intervalo, a romaria começava. Atravessava-se a estrada até ao oásis de tentações que o "Café Bombeiro" tinha para oferecer. Relembro agora alguns ícones da gulodice disponíveis naquele estabelecimento: rebuçados vampiros, amoras, peta-zetas, bolicaos, batatas fritas, bifanas, bombas de Carnaval, balões de água...oh desculpem-me, a minha memória por vezes atraiçoa-me!
O que é certo é que, toda aquela geração que passou pelo "Café Bombeiro" e ingeriu a sua fonte de energia, hoje são pessoas extremamente saudáveis, detentoras de uma saúde de ferro, capazes de comer em qualquer restaurante chinês sem qualquer tipo de constrangimento. Não há cócó que nos meta nojo!
ASAE se me estás a ler: se existisses há alguns anos atrás, irias ter uma dificílima tarefa pela frente, se por ventura te passasse pela cabeça, algum dia, fechar aquela a que hoje muitos chamam de espelunca, e que naquele tempo era a melhor casa de repasto de todo o Ribatejo. Nem que nos tivéssemos todos que barricar dentro do café. E quando digo todos, refiro-me a toda a clientela do "Café do Sr. João", fossem elas crianças, adultos ou animais!

PS: durante este post, por ter que me contextualizar e sentir o que sentia há 20 anos atrás, recorri duas vezes à casa de banho, ambas para regurgitar. Agora está tudo bem.     

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