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terça-feira, 1 de julho de 2014

Ferrinhos, Folclore e sensações auditivas diversas


O fim-de-semana passado foi dedicado às raízes. Mais concretamente a Pontével, terra que de resto me é muito querida.
Como uma vila tremendamente activa, as festas e eventos populares desenrolam-se um pouco por todo o ano. Mas existe um simples evento do qual gosto particularmente: Artével. 
Evento pequeno feito pelas pessoas da terra, para as pessoas da terra, o que lhe confere um ambiente bastante calmo, amigável e familiar. Por vezes sabe bem ver e ouvir o que os mais velhos, e pessoas que já não vemos à muito tempo, têm para nos dizer e ensinar. E talento é o que não falta no artesanato do recinto.
Mas, pela primeira vez, a Artével incomodou-me um pouco.
À minha chegada, já o "baile" ia a meio, actuava um grupo de rancho folclórico. Mas uma coisa muito estranha se passava com o som. Ou melhor, com a inexistência dele. 
De facto, o ambiente sonoro do local parecia adivinhar uma festa triste, que não era de todo o objectivo da organização.
Esta foi apenas uma das minhas muitas observações enquanto transeunte, mas a que mais me chamou a atenção.
Poucos minutos depois, para mal dos meus pecados, o problema técnico do som foi ultrapassado, e a senhora que se esganiçava para que a sua voz (não amplificada), não fosse abafada pelo bater de pés dos seus colegas dançarinos, ganhou outra vida e eu perdi pelo menos metade da minha.
Ora ando eu aqui a idolatrar-vos os meus ouvidos e a minha exigência na qualidade sonora que consumo, e depois, de um segundo para o outro, aquela senhora fez o favor de rebentar com o meu palácio de cristal auditivo. 
Pronto, fiquei a perceber uma coisa: o rancho é bonito, mas sem amplificação!
Imaginem o que é ter uma cana rachada amplificada a bujardar-vos
os tímpanos, sem dó nem piedade, durante largos minutos...nunca irei esquecer aqueles agudos estridentes, exteriorizados por aquela senhora vestida à nazarena...para ser honesto, passei a ter medo de ranchos folclóricos!
Ainda me lembro de um comentário que proferi, e que me deixa à beira de patenteá-lo, tal é a genial ideia: "No tempo de Salazar, se a PIDE fechasse, para interrogatório, os seus reclusos numa sala ao som de altos decibéis de um qualquer rancho, os interrogados falariam tudo ao 3º segundo, o que conferia à PIDE o estatuto de melhor polícia no campeonato internacional dos interrogatórios.
Passada a tormenta, o cabeça de cartaz subiu ao palco para a loucura das senhoras, pois tratava-se, nada mais nada menos, que do Tony Carreira da zona. Ilustre artista, que elevou as actuações caricatas da noite ao seu expoente máximo. Sozinho em cima do palco, dependente da equipa de som presente (que já tinha bebido uns copos), ia pedindo qual a faixa do seu álbum que queria cantar de seguida, pedidos sempre correspondidos com brevidade, mas com muito pouca exactidão. "Agora mete a faixa três, "Amor Je t'aime" sff", e o responsável do som carregava no play da faixa 8 "Je suis Emigrante do Amour"...e assim sucessivamente. 
Resultado: grande noite + grande festa + grandes concertos = grande poluição sonora.
      

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