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segunda-feira, 21 de julho de 2014

Ché madjé, tuga!!!


Não sei se foi sempre assim, mas desde que estou em Lisboa a viver, tenho-me interrogado sobre uma questão, sempre que estou perto de adolescentes: "Seremos nós uma colónia africana?"
A minha infância foi passada, numa então vila chamada Cartaxo, onde, ao longo do anos, não tínhamos contacto algum com pessoal africano. Ou melhor, o mais parecido com isso eram duas ou três crianças africanas que tinham vindo viver para o Cartaxo ainda no berço, sendo que cresceram e passaram a ter uma educação europeia logo à partida. E como eram realmente poucos, e estavam de tal forma enraizados no seio das crianças brancas, passaram a ser, pelo menos interiormente, cidadãos europeus de gema, de tal forma que se identificavam ao máximo com as restantes crianças europeias, fosse naquilo que fosse. E nós sabemos que quando somos crianças, durante todo o processo de crescimento e educação na busca do "eu", somos autênticas esponjas de tudo aquilo que nos rodeia, podendo ser o nosso grupo de amigos o expoente máximo disso.
Regressando a Lisboa. Aqui tenho observado que se dá o processo inverso. Ou seja, mesmo havendo maioria de crianças e jovens geneticamente europeias, o número de adolescentes africanos radicados em Lisboa é também ele enorme.
Assim, ao que me parece, esta "minoria" tem uma influência gigantesca sob a "maioria". Quero com isto dizer que, se no Cartaxo a maioria europeia fazia valer os seus costumes sob a minoria, em Lisboa é a minoria que dita as regras, principalmente nas escolas e colégios da capital portuguesa.
Na minha altura, imitar os mais velhos, fosse naquilo que fosse, era motivo de ascensão na hierarquia invisível da juvenilidade. Agora, como os mais velhos são apenas alvo de gozo por parte destas novas gerações, a referência e o padrão a seguir para se estar bem integrado no seio de um grupo de amigos, é passar a viver consoante os costumes e cultura africana (fora de casa, claro).
Isto é visível na maior parte dos jovens entre os 10 e os 20 anos, em Lisboa, que num grupo que passa na rua o destaque vai todo para o jovem africano. Ou seja, todo o seu comportamento delíder é alvo de vassalagem e cópia pelos demais jovens europeus do grupo. Posto isto, é normalíssimo ver-se hoje, jovens a venerar hip-hop, quizomba, afrobeat, kuduro, funana, usarem roupas evidenciando influências de desportos dominados pela raça negra, e o mais gritante são as expressões verbais. Hoje, é muito comum ouvir-se um grupo de adolescentes portugueses exprimir-se em calão ou não, utilizando os dialectos dos diferentes PALOP's. Com destaque para o crioulo ou a musicalidade angolana na forma de falar. Numa maneira mais urbana, hoje ser-se "nigga" é o mesmo que dizer que se está completamente integrado num grupo de amigos. Até as jovens portuguesas, começam a olhar para o facto de namorarem com um jovem africano de uma forma vantajosa de alcançar o topo da hierarquia juvenil. Todos estes exemplos não vos serão estranhos com certeza, mesmo que sejam muito distraídos.
Não sendo de maneira nenhuma sociólogo, podemos concluir que a influência que Portugal sempre se esforçou para ter junto das suas ex. colónias, encontrou um antídoto que faz ricochete com estas novas fornadas de lusos. Lisboa está hoje para os PALOP's, como Luanda, ou Lourenço Marques, estiveram um dia para Portugal. Metrópole. 
Por exemplo, a este ritmo, não seria de estranhar que o crioulo passasse a ser, um dia, um dialecto tuga.
África esta-nos a fazer a nós, aquilo que Portugal, em tempos, lhe quis fazer a ela. Mas desta vez, de uma forma pacífica e bem mais letal. 
Apenas falo de Lisboa, porque Paris já não é dos franceses, e Lisboa ainda é portuguesa. Os ex. colonizadores a provarem o seu próprio veneno, de uma forma bem mais inconsciente cínica.

PS: Este post não tem qualquer teor racista, ou xenófobo, pelo que me limitei a constatar uma realidade actual. Aos meus olhos é isto que vejo, apenas e só isso: uma leiga e ingénua opinião.

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