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quinta-feira, 22 de maio de 2014

Um Barão, um cão e um homem do lixo!


Hoje o meu dia começou logo da melhor forma.
Sensivelmente de há um ano para cá, a minha rotina permite-me sair de casa de manhã sempre pela mesma hora. Existem dois momentos desta minha saída de casa. Uma temporária, e outra definitiva. Foquemos a nossa atenção apenas na primeira, porque independentemente do que acontecer depois da segunda, nada terá tanto peso como o que vos vou relatar a seguir.
A primeira é feita 10 minutos antes da segunda, porque tenho um cão que depois de uma noite de sono bem dormido, pede com insistência para ir à rua fazer as suas necessidades. E lá vamos nós em passo apressado, pois o Sushi tem 10 minutos para evacuar!
Todos os dias à saída da porta do prédio, de há um ano para cá, deparo-me sempre com a mesma pessoa. É talvez a primeira pessoa que vejo todos os dias. Um humilde e simpático funcionário da recolha de lixo aqui da zona, de nacionalidade nepalesa. Sempre em passo brando e infeliz, conduzindo um carrinho apropriado, este senhor é visto por todos os moradores num vai-vem constante, com o dever de manter a zona onde vivo limpa e bonita. Realmente é visto por todos, mas a grande maioria finge que não o vê.
A minha primeira abordagem com o Djit não foi a melhor. Distraído com um acidente que tinha acabado de acontecer, não reparei que o Sushi ia urinar no carrinho do lixo. E urinou, porque já não fui a tempo de o evitar. Mas antecipadamente, lá vinha o Djit num passo largo na minha direcção, num pranto que nunca me hei-de esquecer, porque aquilo nunca podia ter acontecido com o seu material de trabalho. Visivelmente perturbado com a situação, o Djit nem ouviu as minhas desculpas, e prontificou-se com as lágrimas nos olhos em puxar de detergente e limpar a urinadela do Sushi. Imaginem qual foi a minha cara perante tal sucedido... Nesse dia, não parei de pensar naquilo...
Na segunda vez, a surpresa tomou conta de mim. Eu com vergonha de dizer alguma coisa ao Djit, que lá vinha na minha direcção, fingi que a primeira vez nunca se tinha passado e disse um tímido "Bom dia". Antes já o Djit vinha a gritar por mim há uns metros, para quando me apanhou me estender a mão, dizer bom dia, e oferecer-me sacos para apanhar os cócós do Sushi...não sei qual foi a cara mais estranha, se da primeira vez ou desta segunda. Que humildade!
Um ano passado, e depois de centenas de abordagens diárias deste género, eu, o Djit e o Sushi, não passamos dia nenhum sem nos cumprimentarmos com um aperto de mão, um bom dia e uma dose de sacos para cócós! Até mesmo quando nos vemos a uma considerável distância e eu estico o braço acenando "bom-dia" para o Djit, é vê-lo a largar tudo e correr na minha direcção para fazer uma festa no Sushi, animal que ele considerava um "bicho mau", e que agora é seu grande amigo.
Não poucas vezes já aconteceu, vizinhos meus estranharem a minha relação com o Djit, olhando com desdém e repulsa. Outros passam por nós e apenas me cumprimentam a mim...
Tudo isto para dizer que hoje o Djit se acercou de mim (sempre com o seu ar triste), referindo que hoje fazia 37 anos. E hoje, pela primeira vez, troquei o aperto de mão por um abraço. Foi a primeira vez que vi o Djit a sorrir, ainda que timidamente. 
São estas coisas que me fazem ser tão agarrado à vida. Acredito que contribuo para que o "invisível" homem do lixo nepalês, tenha um dia melhor. Mas acredito ainda mais que ele faz de mim muito melhor pessoa.
Parabéns Djit!!!     

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