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quinta-feira, 8 de maio de 2014

Era uma vez no Cartaxo...


Para putos estúpidos como eu, quando então o éramos, mas mais novos, houve um certo local no Cartaxo que nos marcou. A nós e à vida daquela cidade rural.
Para os cartaxeiros da minha geração, é incontornável, quando falamos da nossa juventude, falarmos do local mais boémio de sempre por aquelas bandas. O Café Flamingo.
Assim, podemos afirmar que existiu um Cartaxo pré e pós Flamingo.
Deveria ter eu os meus 14 /15 anos, quando já o café Flamingo existia no local de sempre. Contudo, nessa altura, era um café a evitar por quase todos os habitantes da cidade. A contar pela sua má reputação e freguesia, ligada principalmente ao álcool e às drogas. Era uma espécie de ponto de encontro da carochada ali do sítio, que devia facturar mais em tráfico e consumo de material ilícito do que no seu serviço como café. Nesta mesma altura, os jovens estudantes, encontravam-se nos cafés circundantes à escola secundária, mas muito divididos por rótulos.
Adiante. 
Pouco tempo depois, surgiu assim do nada, a notícia de que o Flamingo teria mudado de gerência, para três irmãos bem conhecidos da malta (visto que os três abrangiam todas as gerações de jovens do Cartaxo, pelas suas idades). No entanto, como a imagem do anterior local não era a melhor, o que vos vou falar a seguir não se passou de um dia para o outro, mas durou uns 5 anos.
Aos poucos, o "passa palavra" começou a fazer-se sentir por toda a cidade e arredores, e em poucos meses o café Flamingo passou a ser "o café" dos jovens, e muito mais que isso. Nesta altura, lembro-me que todos os caminhos iam dar ao Flamingo. Era uma espécie de santuário, para onde, principalmente os estudantes, faziam a sua peregrinação. Nunca antes um café no Cartaxo fora tão consensual. Na hora de combinar um sítio para conviver, jogar matrecos, setas, cartas, arcade, beber umas, lanchar...era o Flamingo que saltava sempre da boca das pessoas. Era vê-lo sempre bem composto, desde a hora de almoço até largas horas da noite. Assim, o roteiro de vida de um simples jovem do Cartaxo ou arredores, independentemente do seu rótulo, idade, religião, estado civil...era mais ou menos o seguinte (e digam-me se tiver enganado):
Acordar, Flamingo, escola, flamingo, jantar, flamingo. Depois variava muito do que fazias da tua vida, mas o Flamingo era a maior parte dela. Quando querias encontrar alguém, adivinha onde a encontravas de certeza?
O sucesso e boa onda do local era tal, que já se começava a ver pessoal de outras terras por ali a toda a hora. Estava sempre bem composto, mas as noites de fim-de-semana e as noites de verão...eram atípicas para qualquer regular café. Só para terem uma noção: o café não era assim tão grande, e vazio, para se chegar de uma ponta a outra, demoraríamos cerca de 10 segundos. Nestas noites, multiplica esses 10 segundos por 10. Acontecia ver pessoal que se perdia do grupo de amigos dentro do estabelecimento. Para se ir à casa de banho era como estar na fila para o peixe ao sábado de manhã.
Grandes episódios recordo ali. Torneios de matrecos, tardes solarengas de "sobe e desce", pessoal passado com a máquina dos jogos por perder no "King of Fighters", mas era na hora do pessoal do staff afastar os fantasmas do passado do local que tudo se tornava épico. Eram expulsos de várias formas, e sempre muito mais rápido do que haviam entrado, mas lembro-me de uma em que o sujeito levantou voo desde cima da mesa de matrecos, aterrando em plena estrada nacional, sem nunca ter metido os pés no chão pelo caminho.
Numa missão quase impossível, o café Flamingo conseguiu reunir e unir os jovens do Cartaxo num único sítio. Como nenhum outro antes e até hoje conseguiu.
Infelizmente, como tudo o que é de bom naquela terra tem um fim, também o Flamingo o teve. E a partir de então, arrisco-me a dizer, ficou marcada a decadência de uma cidade que me viu nascer, e hoje está praticamente morta e da qual não me orgulho nada!
Para a "geração Flamingo" é normal que estas palavras vos digam tanto quanto a mim, porque foi neste local que fiz amizades, fortaleci outras, e senti a minha terra como nunca.
Belos tempos...  
      

2 comentários:

Vera Santos Felix disse...

Tao isto!!! Parabens por num texto, ou melhor numa frase "Acordar, Flamingo, escola, flamingo, jantar, flamingo. " descreveres um bom tempo da minha juventude! :)

Diogo Leal disse...

Sem dúvida um espaço que marcou a juventude bohemia do Cartaxo. Numa era pós "las Vegas do Ribatejo", a Ave Cor de Rosa assistiu a muita "estória" de muito Cartaxeiro.
Recordo-me de alguns paixões, de muitos copos, risadas, vitórias na mesa de matrecos(não me lembro de derrotas, ahahah), de encontrar uma nota de 100€no chão, de ver o ataque de 11 de Setembro... entre muitas outras!
Onde estão estes espaços no Cartaxo agora?!