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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Quando o sofrimento é vício e prazer!


Esperei uma semana. Uma semana para que recupera-se a força para vos falar do que passei faz hoje 8 dias.
Projectada há mais de dois anos, apenas a precisar de umas pequenas afinações, as minhas novas tatuagens finalmente foram feitas. 
Na quarta feira por esta hora, estava eu ansiosamente à espera que a Sofia Ribeiro acabasse de tatuar uma bússola nas costelas, tatuagem que me deve a mim, pelo facto de eu a ter deixado tatuar na hora que me estava reservada. Ainda continuo à espera daquele "obrigado" que não saiu na hora de se despedir, e que tarda em chegar. Talvez por eu não ter um Mercedes. 
Como sou forte, ainda aguentei com as lamechices da Sra. Ribeiro durante quase 2 horas, algo que me corroeu o sistema nervoso de uma ponta à outra. Se ia nervoso? Naaa...só tive que esperar mais de uma hora ouvindo aquele trabalhar de máquina com agulhas como som de fundo.
Passado o pesadelo, veio, pensava eu, a melhor parte. A parte em que eu ia ser atendido pelo Mestre Luis Martins, e daria início a todo o processo de preparação para aquelas que seriam "apenas" três horas de "sofrimento prazeroso" (aquele que só conhece quem já tatuou). Passou tudo num ápice até ao momento em que me tive de deitar na marquesa ao som do tradicional rockabilly. 
Foi então que a minha viagem começou, eram 17:12. 
Como já sabia do que se tratava, sabia que os primeiros 20 minutos eram os mais dolorosos, e que depois tudo passava a ser mais tolerável. Com a vantagem de estar a ver o trabalho todo do Luis pelo espelho, a primeira hora e meia passou na boa, pois os temas de conversa debitavam mais rápido que a agulha a entrar e a sair da pele.
No fim do traço, parámos pela primeira vez, eram 18:53. Tempo para uma ida à casa de banho apenas, afinal ainda tinha muito que sofrer. Seguiram-se as sombras, as malditas sombras, que doem como tudo e que parecem, à vista desarmada, não alterar grande coisa.
19:48, nova paragem e sombras feitas. A cabeça começava a dar de si, estalando uma dor fininha em ambas as fontes de tanta tensão que eu colocava em cada agulhada. Novo chichi, ingestão de água, um pacote de leite e uma espreguiçadela, porque estar a fazer de estátua há duas horas e tal não é fixe para os ossos.
Entretanto, eu e o Luis ficámos sozinhos na loja, porque às 19:30 é hora de encerramento e a calma tomou conta daquele local. Naquele momento passou a ouvir-se um hip-hop bem rasgadinho, e o relógio marcava 20:22 quando voltamos ao trabalho, desta vez eram os mais rápidos preenchimentos, que segundo o Luis levariam apenas mais 40 minutos. Então serrei os dentes e preparei-me para a recta final (pensando eu).
A meio do preenchimento consegui perceber, através dos elogios ao seu próprio trabalho, que o mestre do oldschool se deliciava com aquilo que estava a fazer. Pudera, eu estava-lhe a dar um trabalho à sua medida. E aqui, percebera eu mais tarde, residiu o prolongar do meu sofrimento, que ao fim de 4 horas começava a ser delirante. Aproveito para pedir desculpas ao Luis mas não me recordo de nada do que falamos a partir daqui em diante, e até ao final...o corpo era de figura presente, e a cabeça quase explodia.
Eram 22:13 quando o Luis disse, como se lhe tivessem tirado o rebuçado, "Pedro, já está!". 
Nem queria acreditar!
5 horas depois, olhei ao espelho e reparei que tudo tinha valido a pena. Era como se o Luis tivesse entrado no meu cérebro e percebido tal e qual o que eu desejava. Afinal, parece que os melhores são assim. E quando se fazem as coisas por gosto também ajuda, sendo que ficámos ali umas horas valentes depois da loja ter fechado sem qualquer tipo de stress. Grande profissional!
O estranho é que hoje, e depois de todo aquele sofrimento traumático, olho para a quarta feira que passou com vontade de voltar a repeti-la. Começo a acreditar nos efeitos do "bondage".
Um vício difícil de controlar. 

PS: As horas foram decoradas ao milésimo, pois foram as vezes em que carreguei no telemóvel. Lembro-me como se fosse hoje. Fotos do resultado final? Sou tímido como sabem...

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