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quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Contra-Luz


Antes de me alongar sobre o tema, quero reforçar a ideia de que não sou minimamente homofóbico, nem coisa que o valha. E apenas estou aqui para vos relatar uma situação que me melindrou, talvez por ter sido a primeira vez.
Como sabemos, hoje a homossexualidade já não tem motivos para se esconder entre quatro paredes. Muitas conquistas foram feitas, muitas ainda estarão por fazer, mas hoje a mentalidade já é outra, e pelo menos para a maioria das pessoas da minha geração, este é um tema normal quando discutimos e olhamos para a sociedade em geral. Mas sem recuar muito no tempo, uns meros 10 anos apenas, esta realidade não era vista como hoje, nem vivida como amanhã será. Se hoje ainda existe algum pudor, vergonha, incompreensão, falta de civismo...no que toca à forma como é olhada a homossexualidade em geral, há 10 anos atrás podemos multiplicar tudo por dois. 
No meu tempo de estudante, não tenho nenhuma memória de alguma vez ter ouvido/visto algum/a colega demonstrar tendências gay. E como é normal, se alguma vez isso tivesse acontecido, por muito segredo que se guardasse, hoje já se saberia. Não sei se era por ser um assunto delicado ou tabu, mas realmente é algo que não fez parte do meu crescimento. 
Nunca tive um amigo/a gay, que se suspeitasse, ou que fosse assumido. Talvez por isso mesmo, este tenha sido um tema que foi melhor compreendido por mim ao longo da minha vida, porque não convivi com tal realidade na infância.
A verdade, é que muita gente aproveitou esta maior abertura social à homossexualidade, para "sair do armário" e assumir aquilo que sentiu toda a vida(uma situação e decisão, que percebo ser difícil).

Como vivo numa zona onde existem 3 colégios, é normal a passagem de jovens e crianças pelas imediações. Uns vão na brincadeira, outros de skate, outros aproveitam para fumar ou namorar nos cantos dos prédios. Ora, um desses prédios é o "meu". Um abrigo estratégico perfeito para os miúdos que querem fazer algo em segredo e com alguma privacidade. Por isso, quase todos os dias, vejo cenários destes, que sempre se passaram junto a escolas, fosse qual fosse a geração.
Um destes dias (mais do que um dia), enquanto vagueava por casa, dei por mim em modo ultra-stalker, boquiaberto ao ver duas jovens, que não deviam ter mais de 14 anos, numa cena amorosa explicita uma com a outra, num dos cantinhos do "meu" edifício. Não sei porquê, fiquei com vergonha mas sem reacção. Não por ter alguma coisa contra, como já disse atrás, mas porque, se calhar, quando penso em casais gays, penso sempre em pessoas adultas. 
Admito nunca ter pensado na homossexualidade entre adolescentes.
De lá para cá, de vez em quando, a imagem volta à minha esfera craniana, e tenho pensado muito em relação ao que vi. 
Já pensei muita coisa, já eliminei outras, e cada vez estou mais próximo de chegar a uma conclusão. Mas não está fácil...talvez ainda não tenha capacidade para interpretar o que vi.
Procuro não pôr nada em causa como é óbvio, e admito que, antes duas crianças do mesmo sexo a namorarem do que a drogarem-se.
A conclusão mais fácil a que cheguei foi: os tempos são outros, e a evolução é hoje feita à velocidade da luz. Ou nos adaptamos a ela, ou passamos a peças de museu...


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