Powered By Blogger

sábado, 6 de agosto de 2016

A super-potência africana


Ontem, quando já não esperava nada de mais que um longo dia de trabalho me pudesse oferecer, eis que ao cair do pano, me surge um delicioso documentário na RTP.
A emissão de 1:30h, tratava de encontrar explicação para a maior super-potência do atletismo mundial, de corrida em longas distâncias: a imbatível geração etíope.
Pois foi uma coisa que várias vezes me deixou sem resposta. O sucesso estrondoso dos atletas etíopes que correm por esse mundo fora.
Assim, este trabalho desconstrói tudo o que se possa pensar acerca desse assunto. Rompe quaisquer argumento, trouxe-me lágrimas aos olhos, e deixou-me ao mesmo tempo esperançado no futuro.
A história é de uma simplicidade tal que, para nós ocidentais, habituados a ter tudo e a queixarmo-nos do resto, ainda tendo tempo para reclamar das condições de trabalho dos nossos atletas...
Pois, ontem fiquei a saber que o atletismo na Etiópia, não é só o desporto nº1, não é só uma paixão, mas é a forma mais simples de se fugir à miséria e ter uma vida melhor. É assim para todos os meninos e meninas etíopes. Mal aprendem a andar, têm tendência inata para se apressarem a correr mais que o melhor amigo.
É algo cultural.
Ali não existem pistas de tartan, ginásios, dietas, profissionais, equipamentos adequados, nem mesmo dinheiro (um bom atleta etíope, que não entre na equipa nacional de atletismo, ganha 40€ por mês), ali só existe foco, treino, e uma vontade cega de ser o melhor para ter uma vida digna.
A frase mas utilizada por aqueles jovens, quando se lhes pergunta o querem ser quando forem grandes, tem resposta imediata: "Ser campeão do mundo e olímpico".
Um bom atleta amador naquele país, corre cerca de 200km por semana, em altas altitudes e onde existe excelente qualidade do ar. Naturalmente as melhores condições de treino do mundo. Apenas existe uma estrada de alcatrão, todas as outras são trilhos. Apenas existe um estádio com pista de treino, mas exclusivo para atletas da selecção nacional. Mesmo assim, os vencedores das maratonas regionais na Etiópia, não raramente, atingem os mínimos para os Jogos Olímpicos...por vezes descalços.
Explicava um atleta amador que, em provas nacionais, o seu recorde na maratona era de 2:13h, e que sempre que ia a provas no estrangeiro, facilmente fazia abaixo de 2:05h. Sendo que o recorde mundial da maratona masculina tem o tempo de 2:02:57, pertencente a um etíope, claro está!
Esta é a marca que guia o futuro daquelas crianças africanas.
Aquelas cabeças, são desde cedo, formatadas para serem os melhores, mesmo com tão pouco. 
Os treinadores, são os principais responsáveis por isso. Um ilustre desconhecido treinador amador local, contava que pelas suas mãos, nos últimos 20 anos, já tinham passado 5 campeões mundiais na maratona masculina, e duas mulheres.
Quando assistimos a provas como os Jogos, apenas focamos as caras daqueles indivíduos que parecem passar fome (passando mesmo), não fazendo a mínima ideia pelo que aquela cara já passou para ali chegar.

A partir de ontem, sou um pouco mais etíope!!

Nenhum comentário: