Este fim de semana, em viagem de carro com amigos "musicólogos", recordávamos, ao som de RHCP, os tempos em que não passava dia nenhum em que esta super-banda não tocasse nos nossos ouvidos. Uma fase de grande admiração e consumo da discografia, daquela que nesses tempos, era a banda de eleição.
Tudo isto se desvaneceu com a saída da super-banda do seu super-elemento: John Frusciante. Aquele que se destacava de todos os outros, muito por culpa da sua visão vanguardista da música.
Posto isto, claro está que a conversa depressa se centrou neste génio da música contemporânea, e nos seus trabalhos a solo.
Depois dos seus primeiros trabalhos a solo, rapidamente percebemos o que movia Frusciante. Uma incrível sede de algo diferente do que havia feito enquanto banda. Depois da obra de arte que é "The Empyrean", seguiram-se ondas bastante egocêntricas, com álbuns muito pouco convencionais, o que o começou a desmarcar da sua anterior imagem de rock star.
Assim, hoje destaco aqui dois projectos recentes de um dos melhores músicos desta geração: Ataxia vs Trickfinger.
Ataxia.
Ataxia é um supergrupo formado por John Frusciante (guitarra e vocal), Joe Lally (baixo e vocal) e Josh Klinghoffer (bateria, sintetizador e vocal). O grupo lançou o seu primeiro álbum, "Automatic Writing", em 2004. Este primeiro trabalho contou com a participação de todos os membros, que contribuíram como vocalistas em pelo menos uma música do álbum. Em 2007, a banda lançou "Automatic Writing IWII" que mais uma vez apresenta o mesmo som experimental melódico. Tal como o primeiro álbum, este apenas tem cinco músicas, com vocais de Frusciante e Klinghoffer.
Daquelas relíquias que de vez em quando me passam pelo ouvido como se fosse a primeira vez.
Trickfinger.
Trickfinger, o disco, é um compêndio de oito canções que partem dos padrões criados pela House Music (surgida em Chicago, em meados dos anos 1980) e entregam-se a experimentos que, infelizmente, tiram qualquer possibilidade de uma estrutura dançante se formar. A escolha das faixas ainda desfavorece tudo, uma vez que a única canção com uma estrutura minimamente similar ao estilo é Phurip, a última do disco. Nela é possível aceitar que John tenha tentado a desconstrução dos padrões originais, mas optando pela manutenção de elementos familiares como alguma progressão de batidas ou o sample de vocais, todos devidamente ensopados por efeitos que dão a impressão que tudo era uma parede de tinta fresca quando foi dado como pronto.
As outras sete canções seguem por este caminho despovoado, experimentais o bastante para não haver conexão com nenhum público e anti-Pop o suficiente para impossibilitar a sua existência longe da excentricidade. O único mecanismo que pode justificar a existência do disco é o facto notório de que Frusciante parece divertir-se o tempo todo e brincar a dominar ferramentas que não conhecia, mas admirava há tempos. Deve ser interessante para alguém que está acostumado a expressar-se em linguagens definidas há tempos obter acesso a um mundo novo de possibilidades.
Mais em jeito de experiência em âmbito privado, Trickfinger é indicado apenas para inveterados e curiosos. Num mundo em que não houvesse tanto acesso a canções e informações, talvez ele nem existisse. Eu gosto!
Obrigado e um bem haja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário