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terça-feira, 13 de setembro de 2016

Se isto é um homem

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Qual de nós nunca teve um dia, em que nos apetece mandar tudo ao ar e desaparecer por uns tempos?
Ás vezes andamos cabisbaixo, pensamos que a vida é injusta e que nada acontece como nós queremos. Que por mais que lutemos, nunca chegamos a lado nenhum. Pensamos. Passamos os dias a pensar, às voltas com a cabeça...
Depois, chegamos a casa, temos um tecto para dormir, comida no prato, o calor de quem gosta de nós e ainda nos damos ao luxo de acordar, no dia seguinte, nesse mesmo ciclo de tristeza viciosa.
Depois, a vida encarrega-se de nós. 
Quem lê este espaço um pouco com mais assiduidade, certamente que se recorda da história do nepalês varredor de ruas, com o qual eu fiz amizade. O Adra.
Pois bem, já não via o Adra há umas semanas, no entanto, ontem tive o prazer de o voltar a cumprimentar.
Pela primeira vez vi-o sem a roupa de trabalho. Sensação esquisita, que me remeteu o pensamento a um dia de folga bem gozado.
Nada disso.
O Adra cumprimentou-me, com a educação de sempre, no entanto aquela mão que esteve sempre quente, agora estava gelada. Trazia os ombros caídos, a testa franzida e as lágrimas nos olhos.
Depois do "olá", seguiu-se num português forçado, uma explosão de tristeza. 
No meio da tormenta, percebi que tinha sido despedido, que o patrão o mandara para casa sem qualquer justificação, e que estava naquela situação há já 3 semanas. Que não mandava dinheiro para a sua família no Nepal (mulher e três filhos) desde então, e que falhou a primeira renda ao senhorio, desde que chegara a Portugal.
Suplicou-me por ajuda. Pedia trabalho. Qualquer tipo de trabalho. 24h de trabalho se tivesse que ser. 
A sensação gélida passou para mim. Fiquei cristalizado, perante tamanho pânico alheio. 
Perguntei se tinha fome, ao que ele de imediato me respondeu que não. Roupa? Não...apenas trabalho por favor.
Sem meios para ajudar, restou-me confortá-lo e indicar-lhe alguns sítios onde poderia pedir emprego.
Tive o dia todo a pensar. Fiquei triste. Depois cheguei a casa, ao meu tecto para dormir, onde tenho comida no prato e o calor dos meus. Mas a tristeza não passou.
Mas quem sou eu para estar triste??? 

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