Ainda em relação às eleições do passado domingo, toca-me dizer algumas coisas nada de especiais.
Enquanto não temos governo, cá vai:
A enorme indignação da maioria das pessoas nas redes sociais pelo resultado da contagem dos votos, demonstra apenas que vivemos numa sociedade esquizofrénica. Se a maioria se continua a queixar face à vida política do nosso país, o resultado não deveria ter sido outro? Ou em democracia, continuamos a ter vergonha de expressar a nossa opinião?
Ao que parece, e a contar pelo balanço que todos os partidos fazem destes resultados, todos eles saíram vencedores no domingo, e assim com os seus papeis no quórum político nacional reforçados, agora e futuramente. Quer isto dizer que ninguém perdeu? Pelo contrário, nós é que ficámos a perder mais uma vez...é sempre muito melhor quando num jogo, seja ele de que cariz for, haja o vencedor e os derrotados. Torna tudo tão mais simples e funcional, mas ao invés e ao que parece, tanto os que ganharam menos, como os que ganharam mais, ambos poderão atingir os seus objectivos e ser governo.
Passando adiante, como sabemos os mandatos desta natureza governativa têm a duração de quatro anos. Como sabemos também, em quatro anos muita coisa muda. A opinião de quem não tem cor política na hora de votar é uma delas. Debrucemo-nos levemente sob esta questão volátil.
O voto, sendo secreto e individual, vai muito para além de uma simples cruz num papel. É sabido e estudado, que quando uma pessoa desenha uma cruz num boletim de voto, fá-lo como reflexo do que tem sido os seus últimos anos de vida. É então nesta fase, que aquela cruz naquele quadrado, que cada um deveria desenhar quando lhe é possível, diz muito do estado recente da vida daquela pessoa em questão.
Simplificando, se durante o último mandato do mais recente governo aquela pessoa melhorou significativamente as suas condições de vida, ou as suas condições de trabalho, tendo tido várias oportunidades de mostrar o seu valor e o sucesso a tem acompanhado, com certeza que a cruz recairá no quadrado do mais recente governo. Ao contrário, se a mesma pessoa nos últimos quatro anos perdeu o emprego, endividou-se e não conseguiu cumprir, ou as oportunidades de vida teimam em não chegar, a cruz irá ser desenhada em todo o lado menos no quadrado do governo.
Esta é muito mais uma questão de se o nosso umbigo cresceu o suficiente, durante os últimos tempos, de modo a que caiba lá o boletim de voto.
Quero com isto dizer que, a satisfação e realização pessoal (passado recente) tem um enorme peso na hora de votar. Afinal, que motivos tem uma pessoa realizada e que viu as suas condições de vida melhorarem durante a estadia do último governo, para não votar neste? Assim como, que motivos um desempregado recente tem para votar no "governo que o expulsou" do mercado de trabalho?
Na prática, o facto é que a maioria foi afectada de forma negativa nas suas vidas nos últimos anos, o que correspondeu ao período de governação do último governo. Ou seja, quem viu a crise passar-lhe ao lado, mesmo que tenha votado no governo, dificilmente o irá admitir perante a maioria, pois será alvo de censura e responsabilizado pela continuação da miséria em que se encontra o país. Fará parte do eixo do mal. Mas também não o terá que fazer pois o voto continua a ser secreto.
Por cá vamos andando...
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